Cadernos PAR - ESAD.CR
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- Gestos rememorativosPublication . Lisboa, Nuno; Gonçalves, Maria MadalenaNão se pode dizer nada sobre um filme: face ao ecrã, a imobilidade e o silêncio caracterizam a experiência hermética do espectador sujeito aos efeitos de memória do dispositivo cinematográfico. Falar ou escrever a partir de um filme implica antes de tudo dar conta de uma experiência de memória, necessariamente diferida. O carácter problemático dessa tarefa é materializado nas fotografias feitas por Sugimoto no interior de salas de cinema, onde tenta fixar numa única imagem a duração de um filme, do primeiro ao último fotograma. Na fotografia, o ecrã emite apenas uma luz branca, enquadrada na arquitectura da sala, aparentemente deserta, como as primeiras fotografias de Daguerre desertificaram as ruas de Paris. Demasiado permeável, exposto à duração, o suporte fotográfico sobrepõe as imagens que no filme se sucederam umas às outras. A acumulação resulta na escassez, o excesso converte-se em vazio (...)
- Treinar o olhar sobre as coisas do mundo : representação do acontecimento e da circunstância em O Sr. Calvino de Gonçalo M. TavaresPublication . Gonçalves, Maria Madalena; Gonçalves, Maria MadalenaOs vinte curtos textos de natureza narrativa que Gonçalo M. Tavares reuniu no volume intitulado "O Sr. Calvino" pedem de nós, quando deles nos acercamos pela primeira vez, uma leitura ingénua muito semelhante à que o autor atribui a Calvino quando o põe a olhar as coisas do mundo para lhes atribuir sentido. Ler estes textos essa primeira vez é ir acompanhando, sem sobressaltos e em curtas etapas, o que Calvino faz, diz, pensa e mostra ser na sua imediata e aparentemente tranquila relação com o mundo. De forma natural e espontânea, por vezes primitiva e infantil mas sempre desarmante (daí o seu encanto), Calvino olha em volta com muita curiosidade. Observa o mundo. Parece que cada coisa insignificante é um "atrito" merecedor da sua atenção. Experimenta. Põe à prova as suas "habilitações técnicas e metafísicas", se for caso disso. Raciocina. Medita. Tira conclusões. E no fim permanece idêntico, pequenino, redondo e "feliz". Assim nós com ele quando fechamos o livro (...)
- Sobre mimesis e teatroPublication . Tavares, Margarida; Gonçalves, Maria MadalenaCom este texto procura-se compreender melhor o conceito de mimesis e, em relação ou derivando deste termo, os conceitos de interpretação e representação, aplicados ao Teatro e ao trabalho do actor.
- Para além da representação - nos limites do visívelPublication . Silva, Rodrigo; Gonçalves, Maria MadalenaO nosso conhecimento do mundo decide-se nas representações que dele extraímos - que dele ab-straímos. Os modos do conhecer fundam-se no modo como sintetizamos representações que põem o mundo em estado de representação, convertendo-o diante de nós numa abstracção arrancada à opacidade do aparecer e ao solo da terra (um ab-solus). Sabemos também que as nossas relações com o mundo não se reduzem à representação e que uma boa parte (talvez a mais decisiva) parece escapar à representação, num difícil entrelaçamento entre as mediações da representação e a imediatez da vida (sem que saibamos por vezes qual é que determina ou qual é que precede a outra). Desde a modernidade que as representações do mundo foram legitimadas como uma passagem à objectividade passível de ser calculada e certificada racionalmente, relegando a dimensão estética da representação para um âmbito especulativo que é desconsiderado face ao impulso absolutista das mediações da representação técnico-científica do mundo. Ao mesmo tempo que o controlo da representação se foi tornando progressivamente mais calculado, em simultâneo e um pouco por todo o lado (face à globalização dos sistemas ocidentais de representação) surgiram novos dispositivos de representação do mundo que fazem proliferar uma circulação interminável de imagens a ponto de Heidegger ter afirmado num texto célebre que doravante viveríamos no "tempo das imagens de mundo" (que denunciaria a realização da "metafísica da vontade do sujeito") (...)
- Práticas do desenho em designPublication . Poeiras, Fernando; Gonçalves, Maria MadalenaDe um ponto de vista pragmático, o valor do desenho em Design depende das suas potencialidades para "projectar" um objecto. No desenho projectual o valor de uso do desenho ficaria assim subordinado aos problemas que o desenho coloca e resolve no âmbito da actividade de projectar. Se privilegiarmos essa relação pragmática entre o desenho e o projecto então temos de esclarecer primeiramente o que aqui significa projectar. Podemos distinguir duas concepções de projecto que definem dois grandes tipos de problema, orientando assim diferentes usos do desenho (...)
- O cineasta e o pintorPublication . Lisboa, Nuno; Gonçalves, Maria Madalena“Para saber o que se passa na cabeça de um pintor, basta seguir a sua mão”. Este é o propósito revelado pelo realizador Henri-Georges Clouzot no preâmbulo do filme "Le Mystère Picasso" que, como André Bazin sublinhou desde logo, “não explica coisa alguma” sobre o artista ou sobre o seu trabalho. Depois da nota de intenções que precede o genérico do filme, é, de facto, a mão que seguimos, sem que porém a possamos ver: no gesto de pintar, da acção da mão, apenas podemos observar os seus efeitos, no deslizar das formas em permanente transformação. “Porque, enfim, não há traço, nem uma mancha de cor que não apareçam – aparecer é mesmo a palavra – de forma rigorosamente imprevisível. (...) Pensa-se que a mão está à direita e o traço surge à esquerda. Espera-se um traço e surge uma mancha; uma mancha é um ponto. O mesmo acontece muitas vezes com os assuntos: o peixe faz-se ave e a ave transforma-se em fauno.”
- Uma teoria da prática em dramaturgiaPublication . Mendonça, Guilherme; Gonçalves, Maria MadalenaAs três áreas que lecciono – Análise de Texto, Interpretação e Dramaturgia – constituem-se, no âmbito da minha prática, como as três áreas basilares da actividade teatral.
- A distanciação brechtiana e o trabalho do actorPublication . Tavares, Margarida; Gonçalves, Maria MadalenaNo século XIX, o desenvolvimento do drama burguês, posterior ao Iluminismo e ao drama de autores como Lessing, privilegiou o individualismo. Filosoficamente, o pensamento de Kierkegaard elevou o indivíduo à categoria cristã por excelência: a Verdade reside no indivíduo; a multidão é logro e fonte de mal e o dever do Homem é voltar-se para o seu semelhante, o seu próximo, e para a Verdade. Por outro lado, o Romantismo inverteu o sentido da busca do Homem, sentido esse que deixou de ser um movimento ascendente para passar a ser descendente. Quer isto dizer que o Homem deixou de procurar a Verdade fora de si, passando a procurá-la dentro de si. São os seus abismos interiores, as suas pulsões, os seus sonhos, a sua interioridade os principais temas de pesquisa da Arte. A este quadro acrescente-se, ainda, no final daquele século, os desenvolvimentos de outras áreas de investigação, como a psicanálise, por exemplo, que vêm aprofundar este movimento de conhecimento interior do homem (...)
- Pragmáticas do desenho em design II : a não coincidência entre a ideia e a imagem no "exercício" de desenhoPublication . Poeiras, Fernando; Gonçalves, Maria MadalenaNeste texto centramo-nos no problema da “não coincidência entre a imagem e a ideia” como problema intrínseco ao desenho.
- A matéria do patrimónioPublication . Serra, João B.; Gonçalves, Maria MadalenaEste texto é formado pelas notas tomadas no decurso da preparação de uma aula, ou melhor, de um conjunto de aulas. Não se trata de um ensaio, mas de materiais seleccionados pelo docente em função de um ponto do programa: comentários à bibliografia recomendada, apontamentos de natureza explicativa, reflexões destinadas a suscitar e informar o debate intelectual. O tema da aula é a atitude patrimonial e seus significados. Em sociedades que se caracterizam pela predação da natureza e, portanto, da história, a patrimonialização funciona num contexto contraditório: legitima-se num dever de preservação de manifestações do passado numa sociedade de generalizada velocidade que perdeu o sentido da história, sobretudo da história dos tempos longos. O património é convocado pelos processos de afirmação de identidade e até por estratégias de turismo e animação, mas a descontextualização a que é submetido oculta o seu significado original e sublinha a sua reificação.