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Abstract(s)
Nos tempos mais recentes é frequente escutarmos uma recorrente apologia do
local e da especificidade do lugar, que parece gozar de um novo prestígio e servir
um qualquer desígnio estratégico da época. O fundo desses discursos mais ou
menos esclarecidos é uma certa reacção à globalização ou, pelo menos, ao que
da globalização implica uma outra relação com a espacialização do mundo, com
o modo de o habitar e percorrer, com o modo de pôr em relação aquilo que nele
antes ficava distante ou separado. Quando pensamos nos processos da técnica
que intensificaram a reconfiguração da superfície do mundo nas últimas décadas,
não poderemos não pensar no modo como a informação e a telecomunicação,
acopladas à densificação da concentração urbana, produziram um enredamento
do próximo e do distante, a ponto de hoje o modo de relação com o próximo
e com o distante ter perdido a distinção clara que regia os nossos protocolos
de relação com um e com o outro. Uma parte considerável do horizonte de
acontecimentos e do tecido relacional, que constituem a experiência quotidiana
na actualidade, é formada pela inevitabilidade do confronto com o longínquo,
o distante, o desconhecido, o ausente: basta encontrarmos um ecrã e logo se dá
um encontro com uma estranha forma de presença com a qual o próximo (no
sentido aqui estritamente físico) se volatilizou e foi eclipsado por um transporte
imersivo para um outro espaço no qual entramos (quase) involuntariamente.
Hoje, na maioria dos lugares onde nos deslocamos, para conduzirmos tarefas
e afazeres da nossa subsistência, o longínquo abeira-se de nós e convida-nos
ao teletransporte – nem que seja no banalíssimo não-lugar de uma conversa
telefónica.
Description
Keywords
Deslocalização Local
Citation
SILVA, Rodrigo - O pensamento da deslocalização. Cadernos PAR. N.º 02 (Fev. 2009), p. 124-137.