Cadernos PAR n.º 02 (Fev. 2009)
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Recent Submissions
- A distanciação brechtiana e o trabalho do actorPublication . Tavares, Margarida; Gonçalves, Maria MadalenaNo século XIX, o desenvolvimento do drama burguês, posterior ao Iluminismo e ao drama de autores como Lessing, privilegiou o individualismo. Filosoficamente, o pensamento de Kierkegaard elevou o indivíduo à categoria cristã por excelência: a Verdade reside no indivíduo; a multidão é logro e fonte de mal e o dever do Homem é voltar-se para o seu semelhante, o seu próximo, e para a Verdade. Por outro lado, o Romantismo inverteu o sentido da busca do Homem, sentido esse que deixou de ser um movimento ascendente para passar a ser descendente. Quer isto dizer que o Homem deixou de procurar a Verdade fora de si, passando a procurá-la dentro de si. São os seus abismos interiores, as suas pulsões, os seus sonhos, a sua interioridade os principais temas de pesquisa da Arte. A este quadro acrescente-se, ainda, no final daquele século, os desenvolvimentos de outras áreas de investigação, como a psicanálise, por exemplo, que vêm aprofundar este movimento de conhecimento interior do homem (...)
- O pensamento da deslocalizaçãoPublication . Silva, Rodrigo; Gonçalves, Maria MadalenaNos tempos mais recentes é frequente escutarmos uma recorrente apologia do local e da especificidade do lugar, que parece gozar de um novo prestígio e servir um qualquer desígnio estratégico da época. O fundo desses discursos mais ou menos esclarecidos é uma certa reacção à globalização ou, pelo menos, ao que da globalização implica uma outra relação com a espacialização do mundo, com o modo de o habitar e percorrer, com o modo de pôr em relação aquilo que nele antes ficava distante ou separado. Quando pensamos nos processos da técnica que intensificaram a reconfiguração da superfície do mundo nas últimas décadas, não poderemos não pensar no modo como a informação e a telecomunicação, acopladas à densificação da concentração urbana, produziram um enredamento do próximo e do distante, a ponto de hoje o modo de relação com o próximo e com o distante ter perdido a distinção clara que regia os nossos protocolos de relação com um e com o outro. Uma parte considerável do horizonte de acontecimentos e do tecido relacional, que constituem a experiência quotidiana na actualidade, é formada pela inevitabilidade do confronto com o longínquo, o distante, o desconhecido, o ausente: basta encontrarmos um ecrã e logo se dá um encontro com uma estranha forma de presença com a qual o próximo (no sentido aqui estritamente físico) se volatilizou e foi eclipsado por um transporte imersivo para um outro espaço no qual entramos (quase) involuntariamente. Hoje, na maioria dos lugares onde nos deslocamos, para conduzirmos tarefas e afazeres da nossa subsistência, o longínquo abeira-se de nós e convida-nos ao teletransporte – nem que seja no banalíssimo não-lugar de uma conversa telefónica.
- Uma teoria da prática em dramaturgiaPublication . Mendonça, Guilherme; Gonçalves, Maria MadalenaAs três áreas que lecciono – Análise de Texto, Interpretação e Dramaturgia – constituem-se, no âmbito da minha prática, como as três áreas basilares da actividade teatral.
- Sobre a fotografia de Fernando LemosPublication . Ferreira, Célia; Gonçalves, Maria MadalenaSublinha-se muitas vezes a dimensão representativa na fotografia, sobretudo pelo seu valor instrumental, mas a fotografia nunca se libertou da tensão existente entre representação, por um lado, e expressão na imagem, por outro, de um tempo fixado (em sentido histórico e material) e de um tempo a ser criado. Essa tensão é inerente à técnica fotográfica e aos objectos por ela produzidos e é sobre ela que se traça a divisão entre diferentes práticas fotográficas, por exemplo, a distinção entre usos artísticos e outros. As fotos de Fernando Lemos (produzidas no conjunto a que nos referimos entre 1949-1952) serão aqui analisadas como objectos para pensar esta tensão.
- A pintura cénica de Manuel Amado em "O espectáculo vai começar..."Publication . Gonçalves, Maria Madalena; Gonçalves, Maria MadalenaManuel Amado expôs, de 18 de Janeiro a 17 de Março de 2007, na Galeria de Pintura do Rei D. Luís, no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, um conjunto de cinquenta telas pintadas entre 2002 e 2006, unidas por um só tema: o teatro. Deu-lhe o título “O espectáculo vai começar …”. Para comentar a pintura desta série, que de forma tão explícita e intencional toma do teatro o palco da sua representação, proponho que partamos das declarações do próprio pintor sobre o seu trabalho em geral e a sua maneira de pintar. Elas ajudar-nos-ão a enquadrar e a entender melhor a concepção discursiva de representação implicada nesta obra, a qual parece assentar num dos conceitos mais importantes do dispositivo estético ocidental, a mimesis, seja porque o teatro – arte mimética por excelência – é o tema único destas telas, seja porque, a pretexto dessa exclusividade, a pintura que pinta o teatro é também aquela que produz imagens que partilham com o modelo a capacidade de criarem o que habitualmente acontece no teatro: a distância entre o espectador que vê imagens e o mundo do espectáculo que as dá a ver. É esta distância, este ‘intervalo’ entre plateia e cena – lugar onde a ‘representação’ se joga –, que permitirá pôr à prova o conceito de mimesis e equacioná-lo no quadro da mais recente produção plástica de Manuel Amado.
- O cineasta e o pintorPublication . Lisboa, Nuno; Gonçalves, Maria Madalena“Para saber o que se passa na cabeça de um pintor, basta seguir a sua mão”. Este é o propósito revelado pelo realizador Henri-Georges Clouzot no preâmbulo do filme "Le Mystère Picasso" que, como André Bazin sublinhou desde logo, “não explica coisa alguma” sobre o artista ou sobre o seu trabalho. Depois da nota de intenções que precede o genérico do filme, é, de facto, a mão que seguimos, sem que porém a possamos ver: no gesto de pintar, da acção da mão, apenas podemos observar os seus efeitos, no deslizar das formas em permanente transformação. “Porque, enfim, não há traço, nem uma mancha de cor que não apareçam – aparecer é mesmo a palavra – de forma rigorosamente imprevisível. (...) Pensa-se que a mão está à direita e o traço surge à esquerda. Espera-se um traço e surge uma mancha; uma mancha é um ponto. O mesmo acontece muitas vezes com os assuntos: o peixe faz-se ave e a ave transforma-se em fauno.”
- Os primórdios do cinema documentalPublication . Martins, Paulo; Gonçalves, Maria MadalenaA importância dos documentários como fonte de conhecimento histórico tem sido cada vez mais destacada por inúmeros autores, em especial Marc Ferro. Logo no início do cinema, com os irmãos Lumière, podemos observar como os seus filmes registaram para a posteridade momentos da vida, como a saída dos operários de uma fábrica, ou a coroação de Nicolau II, permitindo-nos aceder ao conhecimento de uma realidade que para sempre ficaria imortalizada nessas imagens. O processo parecia simples: uma câmara fixa captava as imagens daquilo que decorria à sua frente. Assim, estes filmes tornam-se fontes primárias do conhecimento histórico, pois podemos analisar aquilo que elas dão a ver. Mas, para além disso, essas imagens são também fontes secundárias, visto permitirem uma análise mais detalhada da maneira como captaram a realidade, o que pretendiam mostrar e o modo como nos levam a essa mesma realidade.
- A matéria do patrimónioPublication . Serra, João B.; Gonçalves, Maria MadalenaEste texto é formado pelas notas tomadas no decurso da preparação de uma aula, ou melhor, de um conjunto de aulas. Não se trata de um ensaio, mas de materiais seleccionados pelo docente em função de um ponto do programa: comentários à bibliografia recomendada, apontamentos de natureza explicativa, reflexões destinadas a suscitar e informar o debate intelectual. O tema da aula é a atitude patrimonial e seus significados. Em sociedades que se caracterizam pela predação da natureza e, portanto, da história, a patrimonialização funciona num contexto contraditório: legitima-se num dever de preservação de manifestações do passado numa sociedade de generalizada velocidade que perdeu o sentido da história, sobretudo da história dos tempos longos. O património é convocado pelos processos de afirmação de identidade e até por estratégias de turismo e animação, mas a descontextualização a que é submetido oculta o seu significado original e sublinha a sua reificação.
- Exercícios de desenho (também em design)Publication . Cabau, Philip; Gonçalves, Maria MadalenaO desenho tem uma vocação didáctica ou, mais exactamente, uma potência didáctica. Esta possui já uma longa história, particularmente na sua relação com as diversas práticas profissionais que lidam com a invenção e a produção da forma. Isto porque o desenho proporciona recursos únicos para a aprendizagem de certos saberes, certas experiências: o desenho permite abstrair, do objecto concreto, aqueles dados que se pretendem conceptualizar. Considerámos pois interessante, dada a natureza e o contexto de uma Aula Aberta – que admite um público heterogéneo, constituído por qualquer e todos os docentes e qualquer e todos os alunos –, falar de um dos materiais que sustentam a própria prática pedagógica e que é geralmente ignorado, tratado como um dado adquirido ou considerado demasiado banal para justificar um segundo olhar. Trata-se daquele momento em que é lançado o repto de uma proposta pedagógica. Neste caso, o exercício de desenho, particularmente a sua natureza e funções no contexto de uma formação em Design.
- Pragmáticas do desenho em design II : a não coincidência entre a ideia e a imagem no "exercício" de desenhoPublication . Poeiras, Fernando; Gonçalves, Maria MadalenaNeste texto centramo-nos no problema da “não coincidência entre a imagem e a ideia” como problema intrínseco ao desenho.