Name: | Description: | Size: | Format: | |
---|---|---|---|---|
71.9 KB | Adobe PDF |
Advisor(s)
Abstract(s)
O século XXI, os movimentos crescentes de globalização, a
desterritorialização de pessoas e bens, com a crescente multiculturalidade das
sociedades actuais, levanta problemáticas complexas para profissionais
ligados à antropologia, à sociologia e a outras ciências sociais, que procuram
entender como os agentes sociais pensam e constroem as suas comunidades
nacionais, locais ou regionais.
A imaginação e representação de espaços culturais constitui, portanto, um
processo cultural. Neste sentido, também o conceito de região, herdado da
sociedade moderna de há cerca de 200 anos atrás, implica a construção de um
discurso particular, sobre uma determinada comunidade regional, por relação
a outras suas vizinhas. Contudo, este não é um processo que se pensa no
vazio, pressupõe, antes, vários agentes em jogo, que se movimentam e
problematizam a sua comunidade, relativamente à dos seus vizinhos. Neste
jogo nem todos os agentes sociais possuem a mesma legitimidade para
definir qual deve ser a sua região de pertença pois a voz de alguns destes
agentes pesa mais neste discurso, em virtude do seu domínio num qualquer
campo cultural (Bourdieu, 1989; Shore, 2000)[1].
Como nos demonstram estes autores, são os líderes políticos, culturais,
económicos ou outros agentes que, num determinado grupo, exercendo um
cargo de liderança, decidem sobre a construção da sua diferença enquanto
pertença a uma comunidade regional imaginada, bem como os marcadores a
usar para objectivar essa diferença.
Contudo, há ainda outro dado em jogo, o reconhecimento do resto dos
agentes sociais, aqueles que, não pertencendo às elites, são quem realmente
constitui a comunidade regional, e sem os quais não se podia falar em região.
Assim , se esses não possuem legitimidade para aplicar classificações
(Bourdieu, 1989), detêm, no entanto, o poder de rejeitar as classificações que
as elites lhes tentam impor.
Cris Shore (2000) demonstra que o facto das elites comunitárias não ouvirem
os cidadãos europeus constitui o principal obstáculo à construção da cidadania europeia, em consequência da não identificação dos nacionais com
a Comunidade Europeia.
Assim, com esta comunicação pretendemos problematizar acerca de como o
discurso das elites da região de Leiria se torna fundamental para entendermos
os processos de idealização das diversas regiões que partem, ou não, da
realidade distrital leiriense, herdada século XIX.
Description
Keywords
Metodologias científicas Entrevistas Representações culturais Elites
Citation
MAGALHÃES, Fernando; VIEIRA, Ricardo - As elites e a construção das regiões em Portugal: a entrevista como modo de entendimento dos seus discursos. In: CRUZ, Fernando (Org.) Actas do III Congresso Internacional de Etnografia, Cabeceiras de Basto: AGIR, 2008. ISBN 978-989-8170-00-2.