Browsing by Author "Lisboa, Nuno"
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- O cineasta e o pintorPublication . Lisboa, Nuno; Gonçalves, Maria Madalena“Para saber o que se passa na cabeça de um pintor, basta seguir a sua mão”. Este é o propósito revelado pelo realizador Henri-Georges Clouzot no preâmbulo do filme "Le Mystère Picasso" que, como André Bazin sublinhou desde logo, “não explica coisa alguma” sobre o artista ou sobre o seu trabalho. Depois da nota de intenções que precede o genérico do filme, é, de facto, a mão que seguimos, sem que porém a possamos ver: no gesto de pintar, da acção da mão, apenas podemos observar os seus efeitos, no deslizar das formas em permanente transformação. “Porque, enfim, não há traço, nem uma mancha de cor que não apareçam – aparecer é mesmo a palavra – de forma rigorosamente imprevisível. (...) Pensa-se que a mão está à direita e o traço surge à esquerda. Espera-se um traço e surge uma mancha; uma mancha é um ponto. O mesmo acontece muitas vezes com os assuntos: o peixe faz-se ave e a ave transforma-se em fauno.”
- Gestos rememorativosPublication . Lisboa, Nuno; Gonçalves, Maria MadalenaNão se pode dizer nada sobre um filme: face ao ecrã, a imobilidade e o silêncio caracterizam a experiência hermética do espectador sujeito aos efeitos de memória do dispositivo cinematográfico. Falar ou escrever a partir de um filme implica antes de tudo dar conta de uma experiência de memória, necessariamente diferida. O carácter problemático dessa tarefa é materializado nas fotografias feitas por Sugimoto no interior de salas de cinema, onde tenta fixar numa única imagem a duração de um filme, do primeiro ao último fotograma. Na fotografia, o ecrã emite apenas uma luz branca, enquadrada na arquitectura da sala, aparentemente deserta, como as primeiras fotografias de Daguerre desertificaram as ruas de Paris. Demasiado permeável, exposto à duração, o suporte fotográfico sobrepõe as imagens que no filme se sucederam umas às outras. A acumulação resulta na escassez, o excesso converte-se em vazio (...)